O caminhar surge dentro da pesquisa a partir de uma dupla função. Por um lado ele é o método de deslocamento que melhor serve para se ler os espaços e paisagens, de uma maneira horizontal, envolvida, o caminhar é então visto como uma ferramenta de exploração, e, por outro lado, o caminhar é também a maneira a partir do qual os pensamentos são desenvolvidos, movimento que dita o ritmo da mente, o caminhar é então como um processo de reflexão. Os dois movimentos não são exclusivos, mas sim acontecem em conjunto, nem o corpo funciona sem a mente e nem a mente sem o corpo, mas ainda assim quero tentar perceber as diferenças que se apresentam entre eles.
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O caminhar se torna um processo exploratório, expedicionário, como se, ao descobrir esses novos interesses na paisagem, fosse necessário encontrá-los todos, encontrar as diferentes espécies e as diferentes formas, é um olhar aguçado que caça dentro do espaço urbano as imagens. Os deslocamentos agora são feitos com objetivo, mesmo que muitas vezes sem destino.

1. este endereço não existe

fotografias polaroid
10,7x8,8x3cm
2019

2. sobre deixar ficar

viga de madeira, impressão 350g, prego
14x10,5cm
2019

3. série estruturas do carnaval

desenhos sobre papel 90g/m²
10 x 14,8x21 cm
2021
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O explorar a cidade sem caminho, andar por andar, ver por ver, se perder e perder o caminho, achar e esquecer, encontrar e deixar, pegar e largar, as marcas em mim e as marcas no espaço, a mudança/transformação que causa, tempos comprimidos no espaço, a efemeridade no que já foi.
Apropriar dos materiais, apropriar da memória, criar a semelhança, criar memória, retomada, devolver, a forma volta para onde é matéria, volta para sua origem, fica a lembrança (eu fico na lembrança), lembrança também efêmera, móvel, vai pra onde quiser, pra longe da origem, o recorte de um tempo que nunca foi.
A representação, a realidade e a sensibilidade, mesmo objeto, imagem fica, material passa, caminho guarda, ficamos com o espaço fora do espaço, criar novos espaços, novas relações, novas ruínas.
Trajetos diários, repetição impensada, fronteiras físicas, fronteiras simbólicas, portas a se atravessar (ou não), o uso não traz a facilidade, barreiras invisíveis, como atravessar o intangível, o que não se compreende, o que não se consegue mudar, as portas se movem quando se quer mover, não quando se precisa.
A telas são duplas, proteção dupla, fora-dentro e dentro-fora, minha proteção, eu consigo ver através, atravessar não (ou sim), são barreiras dos sentidos, e dos detritos, não deixam nada cair onde não deve, separam a construção (destruição) do mundo.
Capturar a vida como é, polaroid de momentos, fotos para marcar o cotidiano, para levar, o mental se torna real, se torna amuleto, as barreiras são corporificadas, carrego como um cartão postal, algo que já passou, uma memória antiga, ou recente, entender ajuda a superar, levar ajuda a não esquecer.
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