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A primeira paisagem que vai se formando no meu caminho é a das ruínas, que surge como uma curiosidade nas formas das construções abandonadas que estão por todos os lados em Salvador. Esse interesse vai amadurecendo com o tempo em uma percepção mais crítica da cidade, entendendo o espaço urbano como um campo de luta social, onde a própria memória da cidade/paisagem e dos seus habitantes está em constante risco de ser descartada nas mãos da especulação imobiliária e de uma suposta requalificação da cidade, que gera vazios dentro do urbano e do habitar, deixando para trás como rastro desses conflitos as ruínas, fantasmas do constante processo de transformação dos espaços.
A segunda paisagem que eu proponho como campo fértil para a minha pesquisa é a paisagem das construções - obras, reformas, requalificações -, vista aqui quase que como uma continuação dos espaços da ruína, compartilhando das mesmas questões que já foram levantadas. As zonas de construção se inserem dentro do mesmo contexto capitalista que faz surgir as ruínas, são indicadores dessa cidade sempre em transformação, que precisa se modernizar e ser requalificada, sinais das dinâmicas mercadológicas que controlam o espaço. As mesmas forças que criam os vazios ruinosos da cidade, vazios plenos de potencial, o fazem a partir, até certo modo, das obras e requalificação do espaço urbano, são paisagens adjacentes, comunicantes.
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1. s/ título
litogravura
42x29,7cm
2018

2. s/ título
gravura em metal
28,5x18,9cm
2017

3. s/ título
gravura em metal
29,5x21cm
2018

4. s/ título
gravura em metal
19x57,5
2019

5. s/ título
ponta seca
12x14,5 cm
2019

6. s/ título
gravura em metal
10,3x15cm
2018

7. s/ título
gravura em metal
15,8x25,8cm
2019

8. s/ título
gravura em metal
41,8x29 cm
2018

9. s/ título
gravura em metal
14,5x39,2cm
2018

10. s/ título
díptico de desenhos
36,5x53,5cm
2021
Aquele panorama zero parecia conter ruínas ao contrário, isto é - toda a nova construção que acabaria por ser construída. Isso é o oposto da “ruína romântica” porque os edifícios não caem em ruínas depois de construídos, mas sim erguem-se em ruína antes de serem construídos. (SMITHSON, 1976, p. 72)
Esses trabalhos, ao se desconectarem do real, do espaço georreferenciado, acabam por se desterritorializar; as estruturas ganham autonomia da paisagem, tornando-se as protagonistas da discussão.
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