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O mapa, na minha prática, surge então como uma forma de coletar as experiências do caminhar, de registrar os atravessamentos da cidade, e, dessa maneira, tentar corporificar os momentos fugazes e as memórias fantasmagóricas, os momentos de transformação. Com o mapa é possível então localizar os diversos tempos das paisagens fantasmas, as protegendo do esquecimento, criando no próprio trabalho o mesmo anacronismo que era presente no espaço. No fim eu não sei se existe realmente uma maneira concreta de trazer os fantasmas para uma corporeidade - ou se realmente deveríamos querer isso -, pois não é possível reverter totalmente os processos da memória - e do esquecimento -, e, no fim, os trabalhos também se tornam fantasmas em seu próprio tempo.


1. liber
madeira, gesso, arame de ferro
​32x11,5x11cm
2019

2. travessia
calcografia
48x80cm
2019

3. estrutura
cano de aço, monotipia em tela fachadeira
600x35x5cm
2019
Os livros de artista, ou livros-objeto, são importantes dentro do meu pensamento sobre como corporificar as experiências do caminhar por uma questão de agência, por causa da possibilidade da manipulação ativa da leitura por parte do leitor. Eu propus que a paisagem é lida de maneira diferente por cada pessoa que habita a cidade porque os próprios caminhos que cada um escolhe são diferentes. Parte do caminhar é escolher por onde andar, por que caminhos seguir, até onde ir, e os livros-objeto se propõem a dar ao leitor a mesma escolha, a paisagem pode ser uma só, mas as maneiras como ela pode ser vista são muitas. Os trabalhos - e a própria pesquisa - não se propõem então a serem mapas completos, indicando um caminho definitivo até um destino final, os seus mapas são, pelo contrário, incompletos, cheios de vazios e de espaços em construção. São convites para o jogo, para a construção coletiva, para transformar, assim como o são, no habitar, as paisagens.
Água-caminho, conexão, mapa hidrográfico, os cursos acompanham a natureza, o natural define, potencialidade do atravessar, acompanhar, expansão do alcance, o próprio tempo corre, o corpo segue.
Caminho fluído, metal duro, imagem se torna real na sua falha de se repetir, se torna mais na sua transparência, como água, a manipulação cria novos encontros, novos atravessamentos, travessias, táctil, livro das possibilidades, construção de novas realidades, leitura liquida, sobreposição de camadas, estados, novos mapas vão se formando.
O objeto comum na paisagem, a (re)construção, a estrutura, andaime, o elemento cotidiano, corriqueiro, impregnado em todos os cantos, onipresente, paisagem da ruína, a modularidade, repetitividade, padrão, formas e materiais, espaços intangíveis, sensíveis, o espaço da transformação não muda.
A repetição da forma, repetição do processo, manualmente subir a imagem, uma imagem, subir a construção, construir a paisagem, seis metros de estrutura, dois andares, é difícil ver o todo, perceber o todo, entender.
O cano finca no real, no físico, na escala, dá corpo, constrói, o rio fica presente, a fonte do crescimento, da vida, desenvolvimento, água forte, as estruturas crescem em volta, saem de dentro.
lí-ber

entrecasca
ou
livro
"coleção de palavras e / ou imagens para representar o conhecimento"​

O livro foi cortado, encontrado, cortado, vem do caminhar, do achar, achar a matéria e achar a imagem, o humano gravado no natural, o caminho entre dois pontos, entre dois estados, transformação da paisagem, intervenção no urbano, apesar da mudança a forma se mantêm, se sobrepõe, o natural volta a ser, volta a ser estrutura, volta a ser galho, o que importa é o conteúdo.
Os momentos importam, a primeira obra, o objeto recuperado, efêmeros, no uso eles voltam a ter sentido, criação de novas formas, velhas formas, um mapa da construção, uma imagem do construído, um trajeto que conecta, as estruturas crescem como que natureza. De um lado estrutura, armação, andaime, do outro estrutura, caminho, passos, conexão do real.
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